1 de jul. de 2011

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA CIDADANIA : ESTRATÉGIAS E POSSIBILIDADES.

 Qual a finalidade da escola? Que função social tem o professor? Que estratégias viabilizariam a reconfiguração dos saberes/fazeres docentes frente às demandas sociopolíticas da contemporaneidade no que diz respeito à formação para a cidadania?
Com base nessa informações, podemos destacar que o processo de formação dos professores deve ser contínuo. Nessa direção, Nóvoa (2000) enfatiza que “a formação não ocorre por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas por um trabalho de reflexividade crítica e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal.” (p 48).
Nessa direção, urge conceber a escola como espaço privilegiado para a sistematização de tais direcionamentos, implicando promover dinâmicas coletivas de investigação acerca do trabalho educativo proposto e efetivado pela instituição escolar, fundamentadas na reflexão e interação constantes.
Tomando como base os princípios que se materializam no conceito anteriormente citado, importa à educação escolar tecer práticas informadas por princípios de conduta assentados em valores sociais éticos e humanos de emancipação, tendo por objetivo a formação cidadãos ativos e conscientes. Contudo, tal postura transformadora, como quer Paulo Freire (2006), não se faz para os educandos, mas com eles — caso contrário continuariam estes às franjas de uma prática realmente cidadã. Sendo assim, toda conscientização faz-se, sobretudo, na prática social, com seus sujeitos inclinados a serem mais, completa Freire.
Neste contexto surge o grupo de estudos Diálogos Docentes, composto por 12 professores do Ensino Fundamental e Médio, atuantes na rede pública de ensino do Rio de Janeiro. Tais professores participam de encontros sistematizados quinzenalmente, tendo por objetivos refletir sobre as ações pedagógicas tecidas em seus contextos escolares à luz de variados referenciais teóricos, buscando, com isso, encontrar possibilidades para fomentar uma educação para a cidadania.
No início do projeto, o grupo buscou referenciais teóricos que abordam a temática cidadania, visto que, era necessário conceituá-la teoricamente, identificando, assim, a perspectiva conceitual que irá balizar as futuras dinâmicas organizadas no/pelo Diálogos Docentes.
Ao contrário, na concepção dos professores que participam do grupo de estudos Diálogos Docentes, a educação para a cidadania implica uma resistência face à pressão normativa e normalizadora, do que aparenta ser a neutralidade dos saberes disciplinares quando encarados individualmente (FREITAS, 2005).
Mais uma vez, cabe ressaltar a importância da categoria docente face à construção de tal cenário educativo, sendo pois, urgente identificar estratégias e iniciativas que favoreçam a efetiva implicação de tais sujeitos em seu próprio processo formativo.
Por fim, a educação voltada para cidadania só poderá de fato funcionar se o professor estiver compromissado com o aprendizado do educando e de seu próprio, caso contrário, não teremos espaço para uma perspectiva dinâmica de aprendizagem que priorize o desenvolvimento e a transformação.

Fichamento do texto da prof.ª Flávia Cavalcanti, UCAM

AS TÉCNICAS DE FREINET



TEXTO LIVRE:
Num trabalho educativo, por meio do qual se pretenda atingir o desenvolvimento da escrita, o aluno precisa sentir e compreender a função social dela e a sua razão de existir.
Daí a necessidade de:
- motivá-lo, provocá-lo, para que escreva;
- convencê-lo da importância daquilo que ele tem a dizer;
- conscientizá-lo do valor do seu discurso e da necessidade que cada um tem de se expressar autenticamente;
- ajudá-lo a perder o medo ou a vergonha de dizer o que pensa;
- valorizar suas idéias e ajudá-lo a enriquecê-las;
- levá-lo a perceber que ele não é obrigado a escrever unicamente o que pode agradar ao professor;
- levá-lo a perceber que escrever, quando se experimenta a necessidade de comunicar a alguém o que se traz dentro de si, é também um ato de prazer.
O texto livre é também um instrumento de trabalho. É uma técnica pedagógica que favorece a espontaneidade, a criação, a interação com o meio e a expressão da criança ou do adolescente. É uma oportunidade para o aluno se mostrar e, conseqüentemente, uma maneira do professor conhecê-lo melhor. O texto livre é uma técnica que tem suas bases firmadas na vida do aluno, no seu meio, na sua afetividade, naquilo que ele traz em si de criador, de dinâmico, de inteligente, de humano. Estimula o diálogo entre diferentes valores culturais.
A necessidade de expressar-se gera o texto.
Cabe ao professor garantir um espaço para a comunicação dos textos. São, portanto, fixados dias, horários e número de vagas para as sessões de leitura e comunicação de textos livres.
Os alunos, espontaneamente, se apresentam para procederem à leitura de seus textos.
Efetuada a leitura, a classe discute, comenta e questiona o texto com o seu autor. Ao observar as mais variadas reações e posições, ao criticar e ser criticado, ao elogiar e ser elogiado, o aluno poderá, pouco a pouco, sem que nada lhe seja imposto, reformular seu pensamento, sua maneira de ver o mundo, sua concepção sobre a língua.
Exemplo de registro de textos livres:

Nome do aluno:__________________
Data
Título do texto








JORNAL ESCOLAR:
Uma trajetória que o texto livre pode percorrer é a de transformar-se numa página do jornal da classe.
Neste caso, os textos escolhidos são trabalhados (forma e conteúdo) coletivamente, impressos e duplicados, compondo uma coletânea de textos da classe, que, posteriormente, é difundida para o público leitor.
É, portanto, a expressão fiel dos principais interesses da classe, representada por essa coletânea de textos e desenhos criados, aperfeiçoados e impressos pelos próprios alunos, que constitui o conteúdo do jornal.
O que se pretende com a prática do jornal escolar não é, pois, produzir uma imitação ou um substituto para o jornal comercialmente editado pela imprensa institucionalizada. A intenção, de fato, é:
- reconhecer, respeitar, valorizar a expressão e o trabalho do grupo-classe e de cada um de seus elementos;
- promover a ampliação da rede de comunicação e de interações existentes na classe, para que a palavra do aluno possa romper os limites da sala de aula e atingir outras classes, a família, os amigos, outras escolas, a comunidade;
- aproveitar a força motivadora para a criação de textos livres emanada da prática do jornal escolar.
O aluno sabe que, ao ser publicado no jornal da classe, seu texto será lido por diferentes pessoas. Isso o leva a compreender e a se preocupar com a necessidade de empregar “fórmulas” precisas e claras para melhor eficiência da transmissão de suas mensagens e também a assumir a responsabilidade pelo conteúdo delas.

FICHÁRIO ESCOLAR:
O fichário compõe-se de um conjunto de exercícios distribuídos em fichas classificadas, agrupadas e numeradas de acordo com o assunto a que se referem.
São dois conjuntos de fichas: um contendo as propostas dos exercícios e outro contendo os exercícios resolvidos para autocorreção.
O aluno transcreve e responde o exercício da ficha no seu caderno de exercícios. Resolvido o exercício, o aluno recorre à ficha de correção, verifica o número de acertos e, de acordo com a tabela de avaliação constante da ficha, atribui uma menção para seu exercício.
Para que possa melhor acompanhar e controlar o seu trabalho, o aluno registra na sua ficha de controle, a data, o código da ficha trabalhada, o item ou assunto a que se refere e o resultado obtido.
O professor, periodicamente, inteira-se do andamento dessa atividade com o aluno.
Exemplo de ficha de exercício:
ORTOGRAFIA E.-ORT.- 6
Complete com mal ou mau:
a) Fui muito ................ com ela, pois acho que a tratei muito .....................
b) Saí-me muito .............nas provas e vou obter um ................resultado
c) Ainda que ...........lhe pergunte: Qual é o ...........que os aflige?
d) Não seja tão ..............., Pedrinho!

A ficha de autocorreção é uma réplica da ficha de exercícios, contendo as respostas e a tabela de menções.
Exemplo de ficha para controle deste trabalho:

Nome: ___________________________________ Mês de _____________
Código da ficha
Assunto
Conceito
Observações














BIBLIOTECA DE CLASSE:
Possibilitar que o aluno vivencie a condição de autor (texto livre e jornal escolar) significa também motivá-lo a assumir a condição de leitor. O desejo de ler, manifestado pelo aluno-autor precisa ser freqüentemente estimulado e não enfraquecido com a imposição de leituras inadequadas à sua capacidade, ao seu interesse, ás suas necessidades. Obrigar a ler não significa motivar.
O incentivo à leitura requer, além de uma orientação personalizada, um contato mais direto com livros. O contato direto com livros torna-se viável na prática com a biblioteca de classe, pois é por meio dela que se dá aos alunos a oportunidade de:
- tocar, folhear e escolher seus livros de leitura;
- conhecer o funcionamento de uma biblioteca, catalogando livros e organizando fichários;
- consultar catálogos das editoras;
comentar e ouvir comentários - de colegas e do professor - sobre diferentes obras.
A criação de espaço para a troca de comentários sobre as leituras feitas é fundamental quando se pretende estimular e desenvolver o gosto pela leitura.

Exemplo de fichas que podem ser utilizadas na biblioteca de classe:
1. Cartão de identificação da obra para controle de retiradas:

Título do livro: ___________________
Autor: __________________________
Data da retirada
Aluno
Devolução










2. Cartão do aluno para retirada de livros:
BIBLIOTECA DE CLASSE
Ano: ___________ Turma: _______
Aluno: _____________________________
Dev.
Livro
Ass.










3. Ficha de controle de leitura:
Aluno:_____________________________ Turma: ________
Ret.
Dev.
Título
Observações













Ao final de cada bimestre os alunos responsáveis pela biblioteca de classe podem elaborar um gráfico de retirada de livros, que fica exposto na sala e funciona como instrumento motivador para a leitura.

PROJETOS:
A denominação “projetos” é atribuída ao conjunto de ações que visam à concretização de um objetivo, como, por exemplo, a montagem de uma exposição.
Os projetos, individuais ou coletivos, podem ser propostos pelos alunos ou pelo professor. Costuma nascer de uma discussão provocada por um fato ou por um tema abordado em classe, de uma idéia lançada por um aluno ou por um grupo.
O tempo destinado a sua execução dependerá da complexidade que envolve a sua realização ou da natureza do objetivo fixado.

REUNIÃO DE COOPERATIVA:
A reunião de cooperativa ocorre periodicamente, com datas e horários prefixados e atende a 3 preocupações básicas:
- abordar, analisar, rever periodicamente diferentes aspectos do relacionamento do grupo no desenvolvimento dos trabalhos de classe;
- planejar e organizar os trabalhos a serem desenvolvidos num determinado espaço de tempo ( uma semana, por exemplo);
- avaliar os resultados obtidos na execução do plano de trabalho conjuntamente elaborado.
Reserva-se uma aula semanal, no início ou no final da semana para a reunião de cooperativa. Nos dias que antecedem a reunião, os alunos e o professor expressam, por meio de bilhetes devidamente identificados, críticas, felicitações e sugestões referentes aos mais diversos aspectos relativos ao andamento dos trabalhos escolares. Tais bilhetes são colocados em diferentes envelopes (1 para propostas, 1 para críticas e outro para as felicitações) dispostos na sala de aula para esse fim ou colados no “jornal mural”. O conteúdo desses bilhetes constitui a pauta da reunião.
Por meio de votação ou de indicação, compõe-se a equipe responsável pelos trabalhos da reunião:
1. Ao presidente cabe:
- ler em voz alta o conteúdo de cada bilhete para discussão;
- controlar o uso da palavra;
- garantir a ordem e a disciplina na reunião.
2. Ao vice-presidente cabe:
- agrupar os bilhetes por semelhanças de temas ou assuntos e entregá-los ao presidente para leitura;
destruir os bilhetes anônimos porventura existentes; (a problemática do bilhete anônimo é previamente discutida com os alunos e, assim, se esclarece a razão da regra: não se lê, nem se discute o conteúdo de um bilhete anônimo);
3. Ao secretário cabe responsabilizar-se pelo registro escrito das decisões tomadas.
4. Ao vice-secretário cabe ocupar-se com a colagem dos bilhetes no caderno de reuniões, à medida que eles vão sendo lidos e discutidos.
O presidente inicia a reunião solicitando ao secretário a leitura do registro das decisões tomadas na reunião anterior, analisando-se e discutindo-se a viabilidade da manutenção destas decisões.
Após a leitura de cada bilhete, o presidente passa, inicialmente, a palavra a quem o escreveu. Depois a palavra é dada a todos os que desejarem se manifestar sobre o assunto.
É importante conscientizar os alunos de que:
- o objetivo da reunião é possibilitar uma convivência grupal mais harmoniosa, para favorecer o crescimento de cada um;
- a intenção não é transformar as reuniões num tribunal ou campo de batalha;
- as colocações precisam ser feitas de maneira construtiva e não com o intuito de julgar, ofender, magoar ou destruir os colegas.
Caso o bilhete contenha uma proposta, o grupo decide sobre sua aprovação ou não.
Os trabalhos das reuniões se desenvolvem até que todos os bilhetes sejam lidos e discutidos ou até que se esgote o tempo previsto para sua realização. Esgotado esse tempo, os bilhetes que porventura não tenham sido lidos ou discutidos são rasgados. A adoção desta norma é previamente discutida com os alunos. Os autores dos bilhetes não lidos podem, se julgarem necessário, reescrevê-los e recolocá-los em discussão na reunião seguinte. Esse procedimento é adotado no sentido de levar os alunos a perceberem:
- a limitação imposta pelo tempo;
- a importância da brevidade e da concisão para se garantir a existência de um maior número de intervenções;
- a necessidade de cada um em adotar uma postura mais seletiva com relação ao conteúdo dos bilhetes, em função do interesse e da importância que os assuntos possam ter para o grupo.


AULA PASSEIO:
A técnica da aula passeio, seja qual for o objetivo da saída, deve ser encarada com muita responsabilidade, pois ao fazer os planos para o passeio, preparar os materiais necessários, estar atento ao roteiro da viagem, participar das tarefas durante a saída, o aluno, além de viver um aprendizado natural e agradável, tem a oportunidade de ampliar as formas de relacionamento com os colegas, professores e acompanhantes.
As aulas passeio podem visar diferentes objetivos e, de acordo com eles pode constituir um passeio-informação, um passeio-repouso ou um passeio-estadia.

JORNAL MURAL:
Nas classes Freinet, as paredes são vivas. Isto significa que cada espaço é ocupado por alguma coisa considerada importante pelos alunos e pelo professor e, permanentemente, renovado, conforme a necessidade.
Em cada classe as formas e as soluções encontradas são diferentes, pois cada grupo é único: as paredes vão se enchendo de desenhos, gráficos, painéis, segundo os objetivos de cada grupo.
O painel mais importante, montado por todas as classes, é aquele a que chamam jornal mural, que guarda os bilhetes para a reunião de cooperativa. Num canto especial é colocada uma folha grande, que é trocada semanalmente. Os responsáveis pelo jornal dividem a folha em três grandes colunas, cada uma com seu título: “Eu felicito”, “Eu Critico” e “Eu proponho”.

CANTINHOS:
Na sala de aula, além dos trabalhos coletivos ou dos dirigidos pelo professor, são previstos diferentes “cantinhos” de atividades onde os mais diferentes materiais são colocados à disposição dos alunos para favorecer os tateios e os intercâmbios entre os alunos: desenho/ escrita, recorte/colagem, dobradura, biblioteca, modelagem, matemática, pintura, jogos, ciências, etc.
Este momento de trabalho diversificado é previsto, justamente, para que cada criança, de acordo com sua vontade e seu ritmo individual, realize as mais variadas experiências e manipule os mais diferentes materiais. Como o professor não pode estar em todos os cantinhos ao mesmo tempo, as crianças acabam tentando e descobrindo sozinhas ou com a ajuda de um colega ou de um grupo, a solução para muitos dos problemas surgidos no decorrer de seus trabalhos, o que, sem dúvida, favorece o desenvolvimento da autonomia e da prática da ajuda mútua.

LIVRO DA VIDA:
Em cada aula, um voluntário registra no caderno de relatórios as atividades desenvolvidas.
Na aula seguinte esse relatório é lido para a classe por um dos alunos ou pelo professor. Essa leitura costuma atrair muita atenção.
Por meio desses relatórios, os alunos, de forma bastante espontânea, manifestam sua visão da aula, sua opinião a respeito das atividades realizadas e da atuação dos colegas e do professor.
Após a leitura, é feita, pelo grupo, uma rápida apreciação crítica a respeito do relatório.
O relatórios, além de constituírem um excelente exercício de redação, fornecem aos alunos e ao professor dados concretos para a análise da evolução dos trabalhos desenvolvidos ao longo do curso e para a verificação do aprimoramento da qualidade da expressão escrita e da composição do próprio relatório.

BIBLIOGRAFIA:
SANTOS, Maria Lúcia dos - A expressão livre no aprendizado da Língua Portuguesa - Pedagogia Freinet, São Paulo: Scipione, 1991.
Técnica Freinet - Rio de Janeiro: Vivendo e Aprendendo - Núcleo de Educação Dinâmica LTDA, s/data.

Mobilidade Interna SEEDUC - Unidades Escolares Vocacionadas ao Esporte

https://www.seeduc.rj.gov.br/servidor/mobilidade-interna#h.n0evyrt6dvnm